<i>As crises</i>
Todos os meses, com excepção de Agosto, há uma semana de sessão plenária em Estrasburgo, o que obriga os deputados, funcionários, intérpretes e toneladas de papel, a deslocarem-se de Bruxelas para Estrasburgo para satisfazer a pretensão francesa de partilhar com a Bélgica a sede do Parlamento Europeu, cujos serviços administrativos também funcionam no Luxemburgo, por motivos semelhantes.
Em Setembro, costumam realizar-se duas sessões, em duas semanas intercaladas, para compensar a falha das férias. Mas, este ano, as duas sessões de Setembro decorreram em Bruxelas. A razão não foi a crise financeira ou qualquer rebate de consciência de última hora, para diminuir os custos de milhões de euros que custam tais deslocações. Foi uma razão mais prosaica – a queda de parte do tecto do edifício onde funciona o Parlamento Europeu, em Estrasburgo, o qual foi inaugurado há menos de 10 anos. Se estivesse em funcionamento no momento do desmoronamento, teriam morrido mais de trinta pessoas. Até agora, não foram devidamente esclarecidas as causas. Mas parece ter resultado de deficiências na fiscalização final das obras, as quais teriam deixado o entulho no próprio tecto, que não era de materiais tão resistentes como parecia.
Tudo muito parecido com o sistema financeiro em que vivemos. Mas não deixa de ser escandaloso que tal tenha acontecido e que a generalidade da comunicação social tenha ignorado o facto, o que é também um sintoma da crise em que vivemos.
Foi quase simultâneo o desmoronamento do tecto do Parlamento Europeu, em Estrasburgo, e o rebentar da bolha especulativa que se tinha acumulado no sistema financeiro do mundo capitalista. São sinais dos tempos e do capitalismo em que vivemos.
Entretanto, na última sessão de Setembro, estiveram em debate questões do maior interesse, a começar pela crise financeira, resultado da financeirização crescente da economia, da especulação desenfreada, da multiplicação de instrumentos e produtos financeiros, sempre na busca de cada vez maiores ganhos especulativos, o que é uma das facetas da crise do capitalismo.
Prejuízos nacionalizados
Era claro há muito que mais uma bolha financeira estava aí. E que um dia iria rebentar. Não apenas nos EUA, mas também na União Europeia. As medidas e as políticas neoliberais que apoiaram o desejo dos investidores de obter lucros cada vez mais elevados, que incentivaram a falta de transparência, que criaram e permitiram a manutenção dos paraísos fiscais, onde se alojam e branqueiam também os capitais da economia subterrânea, dos negócios da guerra, dos tráficos de seres humanos e da droga, contribuíram decisivamente para a grave situação que estamos a viver.
Só que, agora, os dinheiros públicos estão a ser usados para evitar falências e prejuízos maiores dos grupos financeiros, para nacionalizar prejuízos, quando os lucros foram privados.
Os dinheiros públicos que faltaram para a política social, para combater a pobreza e a exclusão social, para evitar a morte de milhões de pessoas, incluindo crianças, vítimas da fome e da falta de cuidados básicos de saúde, apareceram, de repente, para nacionalizar os prejuízos causados pela ganância excessiva, e muitas vezes criminosa, de uns tantos (investidores de ganhos especulativos e administradores de ordenados chorudos). Mas quem vai sofrer as consequências são sempre os mesmos: os trabalhadores que vão para o desemprego, as populações que têm de pagar juros mais elevados, incluindo aqui, na União Europeia, sobretudo nos países de economias mais débeis.
Por isso, algumas medidas se impõem no imediato, a começar pelo fim dos paraísos fiscais e da confidencialidade, sem o que não pode haver transparência, mas que os responsáveis da União Europeia evitam, para tentar salvar os interesses dos que lá guardaram as suas fortunas, continuando a admitir que lucros sejam privatizados e os prejuízos socializados.
O que é um escândalo e só agrava a crise que recai sobre os mesmos de sempre: trabalhadores e camadas mais débeis da população. Nesta situação critica, impõe-se que se ponha fim à falsa autonomia do BCE, para garantir uma alteração dos objectivos da política monetária e financeira, e que se tomem medidas de fundo que combatam a especulação bolsista e garantam a manutenção nas mãos do Estado dos sectores estratégicos da economia, ou seja, que se faça o contrário do que continua a fazer o governo do PS, que, mesmo nesta situação de crise, teima em privatizar o que ainda é público na Galp.
É essencial uma ruptura com as políticas que conduziram a esta situação. É preciso que a prioridade seja o apoio à criação de emprego com direitos, à produção, à resolução da pobreza, melhorando o poder de compra dos trabalhadores e dos pensionistas, apoiando serviços públicos de qualidade, promovendo uma distribuição justa dos rendimentos existentes.
Em Setembro, costumam realizar-se duas sessões, em duas semanas intercaladas, para compensar a falha das férias. Mas, este ano, as duas sessões de Setembro decorreram em Bruxelas. A razão não foi a crise financeira ou qualquer rebate de consciência de última hora, para diminuir os custos de milhões de euros que custam tais deslocações. Foi uma razão mais prosaica – a queda de parte do tecto do edifício onde funciona o Parlamento Europeu, em Estrasburgo, o qual foi inaugurado há menos de 10 anos. Se estivesse em funcionamento no momento do desmoronamento, teriam morrido mais de trinta pessoas. Até agora, não foram devidamente esclarecidas as causas. Mas parece ter resultado de deficiências na fiscalização final das obras, as quais teriam deixado o entulho no próprio tecto, que não era de materiais tão resistentes como parecia.
Tudo muito parecido com o sistema financeiro em que vivemos. Mas não deixa de ser escandaloso que tal tenha acontecido e que a generalidade da comunicação social tenha ignorado o facto, o que é também um sintoma da crise em que vivemos.
Foi quase simultâneo o desmoronamento do tecto do Parlamento Europeu, em Estrasburgo, e o rebentar da bolha especulativa que se tinha acumulado no sistema financeiro do mundo capitalista. São sinais dos tempos e do capitalismo em que vivemos.
Entretanto, na última sessão de Setembro, estiveram em debate questões do maior interesse, a começar pela crise financeira, resultado da financeirização crescente da economia, da especulação desenfreada, da multiplicação de instrumentos e produtos financeiros, sempre na busca de cada vez maiores ganhos especulativos, o que é uma das facetas da crise do capitalismo.
Prejuízos nacionalizados
Era claro há muito que mais uma bolha financeira estava aí. E que um dia iria rebentar. Não apenas nos EUA, mas também na União Europeia. As medidas e as políticas neoliberais que apoiaram o desejo dos investidores de obter lucros cada vez mais elevados, que incentivaram a falta de transparência, que criaram e permitiram a manutenção dos paraísos fiscais, onde se alojam e branqueiam também os capitais da economia subterrânea, dos negócios da guerra, dos tráficos de seres humanos e da droga, contribuíram decisivamente para a grave situação que estamos a viver.
Só que, agora, os dinheiros públicos estão a ser usados para evitar falências e prejuízos maiores dos grupos financeiros, para nacionalizar prejuízos, quando os lucros foram privados.
Os dinheiros públicos que faltaram para a política social, para combater a pobreza e a exclusão social, para evitar a morte de milhões de pessoas, incluindo crianças, vítimas da fome e da falta de cuidados básicos de saúde, apareceram, de repente, para nacionalizar os prejuízos causados pela ganância excessiva, e muitas vezes criminosa, de uns tantos (investidores de ganhos especulativos e administradores de ordenados chorudos). Mas quem vai sofrer as consequências são sempre os mesmos: os trabalhadores que vão para o desemprego, as populações que têm de pagar juros mais elevados, incluindo aqui, na União Europeia, sobretudo nos países de economias mais débeis.
Por isso, algumas medidas se impõem no imediato, a começar pelo fim dos paraísos fiscais e da confidencialidade, sem o que não pode haver transparência, mas que os responsáveis da União Europeia evitam, para tentar salvar os interesses dos que lá guardaram as suas fortunas, continuando a admitir que lucros sejam privatizados e os prejuízos socializados.
O que é um escândalo e só agrava a crise que recai sobre os mesmos de sempre: trabalhadores e camadas mais débeis da população. Nesta situação critica, impõe-se que se ponha fim à falsa autonomia do BCE, para garantir uma alteração dos objectivos da política monetária e financeira, e que se tomem medidas de fundo que combatam a especulação bolsista e garantam a manutenção nas mãos do Estado dos sectores estratégicos da economia, ou seja, que se faça o contrário do que continua a fazer o governo do PS, que, mesmo nesta situação de crise, teima em privatizar o que ainda é público na Galp.
É essencial uma ruptura com as políticas que conduziram a esta situação. É preciso que a prioridade seja o apoio à criação de emprego com direitos, à produção, à resolução da pobreza, melhorando o poder de compra dos trabalhadores e dos pensionistas, apoiando serviços públicos de qualidade, promovendo uma distribuição justa dos rendimentos existentes.